5 Regras para investir e ganhar em tempos de incerteza
Segue a versão completa do artigo resumido que saiu na Revista Do it! nº 38:
Em tempos de incerteza económica, tal como o período de pandemia global que se iniciou em 2020, muitos de nós não conseguimos evitar e damos por nós a dar lugar a dúvidas e inseguranças onde antes existiam certezas e confiança. Mas se tivermos algumas regras para nos nortearmos nestes momentos, conseguimos dessa forma, talvez, não nos sentirmos tão perdidos. No que diz respeito a investimentos, existem algumas regras basilares que aplico nas minhas estratégias de investimento para garantir que consigo tirar partido das oportunidades que estes períodos apresentam, e que partilho de seguida para que você não caia nos erros que muitos investidores cometem nestas alturas:
Regra nº 1: Não entre em pânico e não venda os seus investimentos ou ativos indiscriminadamente;
Regra nº 2: Elimine ou reduza custos desnecessários e supérfluos;
Regra nº 3: Tenha coragem para investir nas oportunidades certas;
Regra nº 4: Seja paciente;
Regra nº 5: Fique atento e adapte-se às mudanças.
Regra nº 1: Entrando em detalhe em cada regra, posso dizer que muitos investidores entram em pânico em alturas de incerteza porque se deixam levar pelas suas emoções, e ao verem o valor do seu investimento ser dizimado num curto espaço de tempo, atiram a toalha para o ringue e liquidam o seu investimento ou vendem os seus ativos, muitas vezes, na pior altura possível. Muitas vezes quando as notícias e as perspetivas económicas parecem ser todas negativas, e toda a esperança parece estar perdida, é a altura em que o mercado já contabilizou todos esses fatores e estabeleceu um fundo. Vender no fundo é o pior que se pode fazer, tal como diz a velha máximo dos investimentos: “venda quando os outros estão a comprar, e compre quando os outros estão a vender”, por isso evite tornar-se parte do rebanho que compra e vende nas piores alturas possíveis, mantenha o sangue frio, não se deixe afetar pelos dois maiores inimigos de um investidor: a ganâncio e o medo, que levam em casos extremos à euforia e ao pânico, respetivamente. A minha recomendação, é ir aumentando os seus investimentos quando identifique uma tendência de subida, mas estabeleça claramente limitações de perdas (stop loss), caso o seu investimento comece a desvalorizar. Desta maneira, você já saiu do mercado muito antes deste ter entrado em queda abrupta, e quando os outros estão a liquidar os seus investimentos indiscriminadamente, você terá munições, capital disponível, para tirar partido de oportunidades a preço de saldo, que é exatamente a estratégia utilizada por investidores sofisticados.
Regra nº 2: Perante um cenário de incerteza do futuro das nossas receitas, torna-se imperativo impormos uma disciplina e implementarmos um regime de auto-austeridade. Isto vai garantir a sustentabilidade dos nossos investimentos e negócios por mais tempo, o que é essencial para sobrevivermos aos períodos de incerteza, cuja duração é impossível de prever. É importante voltar a frisar que em tempos de incerteza podem abundar oportunidades para adquirir bons investimentos a preços de saldo, mas para se tirar proveito destas, tempos que ter munições ou seja capital disponível. E uma vez que os nossos rendimentos também podem ser afetados negativamente nestes períodos, torna-se essencial que tenhamos uma estratégia de investimento saudável. Esta é a altura para sanearmos o nosso balanço, e eliminarmos gorduras, ou seja custos e despesas não essenciais ou que estejam mesmo a causar-nos prejuízos. Em tempos de crescimento económico, em que possivelmente os nossos investimentos ou negócios estejam a produzir boas receitas, temos tendência para acumular várias despesas ou custos supérfluos, ou mesmo manter investimentos que nos mostram prejuízos, porque as receitas são mais que suficientes para as cobrir. Caso tenhamos caído nesse erro, esta é a altura para verificarmos o que podemos eliminar do nosso balanço.
Regra nº 3: Como já referi, em períodos de incerteza surgem muitas vezes oportunidades únicas a preço de saldo, e é destas que devemos tirar partido. Torna-se por isso crucial ter coragem de premir o gatilho e avançar na altura certa, depois de feitas as análises e tomadas as diligências necessárias, claro. O que reparei ao longo dos anos, foi que muitos investidores identificam um bom investimento mas depois ficam paralizados pelo medo, e deixam-se influenciar pelo clima negativo que normalmente abunda em períodos de incerteza. Uma forma de pensar sobre bons investimentos é a seguinte, pense para si “daqui a 100 anos, que indústrias ou empresas têm uma alta probabilidade de ainda existir?”, se pensar dessa forma, provavelmente não vai investir em modas passageiras, arriscando-se a ficar com uma “batata quente” nas mãos que depois não consegue vender a ninguém pelo preço que deu por ela, mas se ao invés pensar nas necessidades que o ser humano sempre teve, provavelmente irá identificar investimentos melhores, tais como necessidades de comunicação, de transporte, de alimentação, de habitação e por aí fora. Posso aqui relembrar que na altura que os automóveis foram inventados, a história registou um período de euforia em relação a esta nova invenção e surgiram centenas, talvez milhares, de marcas de automóveis, tendo muitas ido à falência e apenas algumas singrado, mas provavelmente as empresas que produziam o combustível ou a borracha para os pneus que eram utilizados de forma transversal por todos os automóveis conseguiram persistir no mercado de forma mais resiliente.
Regra nº 4: A importância de ser paciente não deve ser menosprezada. Em primeiro lugar porque não conseguimos prever a duração dos eventos de incerteza e também porque, nos investimentos nos mercados, não podemos tentar impôr a nossa vontade. Temos que ter em conta que os mercados financeiros resultam da interação de pessoas ou, muitas vezes, de algoritmos que tentam replicar comportamentos humanos, e que portanto, frequentemente, quando pensamos ter identificado uma oportunidade no mercado, isso não implica que todos os outros investidores a tenham identificado ou mesmo tendo reparado nela, que necessariamente concordem com o nosso raciocínio. O ser humano é imperfeito e os mercados não são nada mais que o reflexo das interações humanos através da compra e venda de um bem. Por isso, caso pense que o mercado não está a ser racional, lembre-se que muitas vezes o ser humano também age irracionalmente, por isso é que a velha máximo dos investimentos continua válida hoje como sempre: “Os mercados podem permanecer irracionais por mais tempo que você consiga permanecer solvente.” A nossa melhor defesa é desenvolver uma estratégia de investimento lógica e com uma boa gestão de risco, mas depois temos que estar preparado para dar tempo ao mercado. Seja paciente.
Regra nº 5: A última regra, prende-se com a necessidade de sermos capazes de nos adaptar a qualquer mudança nas circunstâncias que avaliámos anteriormente. Temos que, por isso, permanecer atentos e monitorar o desenvolvimento dos fatores que afetam ou possam afetar os nossos investimentos, para que possamos tomar uma ação decisiva caso as circunstâncias assim o exijam. É importante notar que investir nos mercados financeiros não é tentar adivinhar o futuro, mas sim agir relativamente ao que ocorre nos mercados no presente. Esperança, desejos ou previsões do futuro não são estratégias de investimento válidas. Por exemplo, relembre-se o caso da Long Term Capital Management, um fundo de investimento que tinha dois laureados com o prémio Nobel a gerir os seus investimentos, e que tentaram por duas vezes provar ao mercado que as suas teorias e previsões económicas deveriam estar corretas, com o resultado de terem implodido o seu fundo não uma, mas duas vezes, perdendo imenso dinheiro para os seus investidores e acabando por ir à falência. Por isso não importa o quanto uma teoria pareça fazer sentido, não se pode discutir com o mercado ou convencê-lo da nossa vontade. Como já referi, o mercado pode permanecer irracional durante mais tempo do que uma pessoa consegue permanecer solvente. Por conseguinte, deve-se transacionar o que se vê, e não o que se pensa ou se deseja. Como o lendário especulador Jesse Livermore disse uma vez: “O próprio jogo ensina o jogo e não poupa a vara enquanto ensina”, e mesmo que sejamos um laureado com o prémio Nobel, o mercado vai nos ensinar lições de humildade, vez após vez. Nos mercados, o orgulho não é poder, é uma fraqueza.
Para concluir, espero que encontre alguma utilidade nestas 5 regras que aqui partilhei e que são uma distilação muito resumida de algumas lições que aprendi ao longo de largos anos de experiência a operar nos mercados financeiros. Relembro: não entre em pânico, reduza custos, tenha coragem, seja paciente e permaneça atento!